sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Do outro lado da mesa, mas do mesmo lado da justiça!

Enrico Ferri, um dos maiores advogados criminalistas da História, escreveu dois livros onde registra seus principais momentos no tribunal do júri italiano.
Numa obra narra os Discursos Penais de Defesa, e na outra, osDiscursos Penais de Acusação, mostrando que o advogado, para ser inteiro, precisa conhecer e saber atuar na acusação e na defesa, nos dois lados, tendo como critério dessa escolha, a consciência do que é certo em cada caso concreto.
Atuei, ontem, do lado da vítima, como assistente do Ministério Público, por entender que o réu merecia uma justa reprimenda, e que não estava amparado por nenhuma tese jurídica razoável que justificasse a sua conduta.
Estava fazendo a defesa da vida. E como norte espiritual do caminho a trilhar na minha oratória escolhi a frase do filósofo transcendentalista Ralph Waldo Emerson:"Viver, deixar viver e ajudar a viver".
Durante o julgamento, o advogado de defesa, sustentando suas razões, verberou, do alto de sua experiência de mais de duas décadas de atuação no pretório popular:"Meu cliente é inocente porque apresentou sempre a mesma versão".
Eu o aparteei: "Sofismando, mas não provando".
Ele rebateu: "Mas é o senhor quem sempre diz isso aqui no júri, de que quem fala a verdade é como o vôo da andorinha, sempre retilínio, e que quem fala a mentira é como o vôo do morcego, sempre vacilante".
Respondi-lhe: "Mas a coisa dita muito certinha, muito preparadinha é jogo de delinquente astucioso, orientado por advogado esperto".
E perdeu a compostura, partindo para a agressão gratuita: "Isso é patético o que esse advogadozinho diz, só porque senta hoje do outro lado da mesa...".
E de prontou completei: "...Do outro lado da mesa, mas do mesmo lado da justiça".
Ao final, o júri condenou o réu, que matou uma mãe de família trabalhadora, da qual deixou três filhos órfãos, sendo um deles deficiente físico e mental, que ainda hoje procura pela mãe nos cantinhos de seu lar. O réu, que deu um facada em cima do coração da vítima, acertou também o coração de três crianças, que ao perderem a mãe, perderam a maior doçura que Deus nos deu de presente.
Do outro lado da mesa, sim, doutor, mas do mesmo lado da justiça!

Fonte: SANDERSON SILVA DE MOURA = http://sandersonmoura.blogspot.com

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