domingo, 23 de novembro de 2008

Igreja oferece sessões de exorcismo em missas em SP


Cristina Christiano, Diário de S.Paulo

SÃO PAULO - O diabo anda solto nos dias de hoje. Essa, pelo menos, é a sensação de uma legião de fiéis que cada vez mais busca nos templos religiosos a solução de seus problemas. Atenta a essas necessidades e, principalmente para atrair seguidores, a Igreja Católica está reeditando rituais de exorcismo, que hoje são chamados missa de cura e libertação. Nem mesmo a tradicional Igreja Romana, sempre cautelosa no assunto, ficou de fora. As celebrações, que já podem ser vistas em alguns santuários, chegam a reunir mais de 500 pessoas numa noite, como ocorreu na última terça-feira na Igreja Nossa Senhora das Graças, em Santo André, na Grande São Paulo. O pároco, Vanderlei Nunes, é o único padre exorcista reconhecido pela Arquidiocese de São Paulo.

- Se não fizermos isso, os pastores evangélicos farão. Veja o êxodo de católicos para outras religiões nos últimos anos - alerta o padre Mário Teodoro Batista, pároco da Igreja de São Silvestre, em Jacareí, Vale do Paraíba.

Segundo censo do IBGE, em 1990, 83% da população brasileira eram de católicos, enquanto os evangélicos representavam 9%. Em 2000, o número passou, respectivamente, para 73,6% e 15,4%.Mais freqüentes na Igreja Católica Apostólica Renovada, os rituais de exorcismo mesclam misticismo e êxtase. Nas missas do padre Jader Pereira, no Santuário do Bom Jesus, na Mooca, zona leste, as cenas são impressionantes.

Padre Jader, que se autodenomina exorcista, diz que, muitas vezes, a pessoa acha que está com encosto porque tudo dá errado na vida dela. Porém, a questão é só psicológica. Ele afirma que também é possível alguém estar com perturbação espiritual e não perceber porque o demônio não se apresentou claramente.

Ele ressalta que só com a prática se diferencia o problema espiritual do psicológico.

- Na sua casa, quem manda é você. Então, se você manda o demônio sair e ele insiste em ficar, não é espiritual, é psicológico - diz.

O padre explica que a maior parte dos trabalhos de amarração (para prejudicar) é feita por inveja.

- Se a pessoa é fraca, negativista, ela dá margem para o mal atingi-la. Mas, muitas vezes, a amarração pode ser direcionada a alguém próximo, para afetá-la ainda mais - afirma.

O padre acha que os fiéis vão à igreja em busca de terapeuta.

- A Igreja deixa muito a desejar porque, às vezes, a pessoa só quer desabafar, precisa de carinho, de abraço, de um ombro amigo, mas o padre a manda só rezar. E não é o que ela quer ouvir. Então, para que possa ser ajudada, temos que começar o tratamento do ponto em que ela acredita - diz.

Ele afirma ainda que os pedidos são, principalmente, de ajuda para problemas financeiros, de amor e de saúde.

A maioria dos fiéis vem de longe, na esperança de alcançar a graça que tanto precisa. As cerimônias geralmente duram pouco mais de duas horas, mas quase ninguém percebe o tempo passar, nem mesmo os que estão em pé.

- Adoro vir à igreja, porque é aqui que consigo a minha libertação, a minha luz", comenta a ambulante Marli da Silva, de 44 anos, uma das fiéis que freqüentam o templo do Bom Jesus, na Mooca. Ela, que mora em Bertioga, litoral sul, e vem toda semana a São Paulo só para a missa.

Na Igreja Nossa Senhora das Graças, em Santo André, que é católica tradicional, os rituais também levam os fiéis às lágrimas, embora as demonstrações de fé não sejam tão ostensivas quanto em outros templos. Na última terça-feira, a missa foi rezada pelo padre Odair porque o pároco Vanderlei Nunes, que é exorcista indicado pela diocese, teve um compromisso fora. Após a leitura do evangelho e da comunhão, o padre caminhou entre os fiéis durante cerca de 15 minutos, carregando um ostensório (círculo dourado onde se ostenta a hóstia consagrada), para que todos pudessem fazer seus pedidos de graça.

Enquanto isso, um auxiliar, que permaneceu no altar, estimulava os fiéis, pelo microfone, a se entregarem à libertação, aos braços de Cristo, sem medo. As frases dele eram curtas, repetitivas e persuasivas, como nas cerimônias de descarrego da Igreja Evangélica. De braços erguidos, fiéis exibiam fotos, garrafas de água, receitas médicas e até cartas de amor.

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