domingo, 11 de janeiro de 2009

Comércio sexual: do Brasil para o mundo

por Karina Merlo

O comércio sexual existe há muitas décadas no Brasil. Tornou-se parte de uma realidade política-social-econômica que convive com o desemprego e a facilidade de angariar alguns trocados com a venda de um bem particular – o próprio corpo. Há quem defenda a regularização da prostituição como profissão. Esquecem-se eles que crianças crescem nesses ambientes e terminam por achar ser uma prática normal se prostituir. Se tal ato for legalizado será um atentado à moral da sociedade brasileira e um incentivo à prostituição infantil.
A imagem do nosso país está comprometida pela falta de seriedade ao combate dessa prática. Em visita ao Brasil, uma grande amiga que reside em Roma-Itália há 10 anos falou-me sobre atração que os negros brasileiros exercem sobre as italianas. Elas antecipadamente, antes de vir conhecer as maravilhas da “Terra Brasilis”, pesquisavam roteiros que pudessem encontrar os afro-descendentes “sarados” para tornar a sua vinda mais interessante.
A princípio eu não dei a devida importância ao comentário de minha amiga, afinal Salvador é a capital de um estado brasileiro em que uma pessoa parda pode ser considerada estrageira em qualquer esquina. Foi quando li a notícia do pedido de ação da Procuradoria Regional Federal da 2ª Região que entendi a gravidade do assunto. Pesquisando em sites pela internet percebe-se que a divulgação no exterior sobre o Brasil resume-se a dois tópicos: política e sexo.
A Procuradoria Regional Federal da 2ª Região (RJ e ES) entrou com uma ação pedindo a retirada de circulação da revista Rio For Partiers (Rio para festeiros), que chama algumas brasileiras de máquinas de sexo e classifica os bailes de carnaval como “atividades de semi-orgia”. A ação foi movida a pedido da Embratur, que considerou que a publicação incentiva a prática de exploração sexual.
A publicação é escrita em inglês e é vendida por cerca de US$ 23 (R$ 52). A editora Solcat, que publica a revista, fica no Rio de Janeiro e garante a entrega do guia em qualquer lugar do mundo por apenas mais US$ 4 (R$ 9) de frete.

Segundo a Agência Brasil, a Embratur afirma que a revista usa, de forma não autorizada, o selo Brazil Sensational, do Ministério do Turismo. O selo foi criado para divulgar a imagem do turismo brasileiro. Para o procurador Marco Di Iulio, que entrou com a ação, a revista expõe o povo brasileiro a uma situação vexatória e viola a dignidade humana.
A ação foi apresentada à Justiça Federal no Rio de Janeiro. Caso a Justiça dê ganho de causa à Embratur, a revista terá que ser recolhida. A multa diária mínima é de R$ 10 mil.
Na reportagem, a revista divide as mulheres cariocas em quatro estilos: as britneys, que seriam as "filhinhas de papai" que não deixam ninguém cantá-las; as popozudas, chamadas de máquinas de sexo bundudas que topam facilmente ter relações sexuais; as hippies/ravers, que são garotas divertidas, mas difíceis de beijar; e as balzacs, mulheres mais velhas que querem se divertir, dançar, beber e beijar. (1)
Se antigamente turismo sexual parecia coisa de senhores de uma certa idade em busca de companhia, as coisas estão mudando. Jovens de 25 e 30 anos, na flor da idade, são agora os caçadores de aventuras sexuais que incluem o abuso de menores, com ou sem "troca comercial". A Itália é um dos países que mais exporta esse tipo de turista e o Brasil um dos que mais recebem. O dado foi divulgado durante o terceiro congresso mundial que aconteceu no Rio de Janeiro entre 25 e 28 de novembro de 2008.( III Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual da Criança e do Adolescente ).(2)
O comércio sexual no Brasil rompeu as fronteiras do país. Há algum tempo eu tinha estudado um tema interessante - tráfico de mulheres. Casos e mais casos de mulheres que, iludidas por uma vida melhor, sujeitaram-se na aventura de sair do país para trabalhar no exterior. Redes internacionais especializaram-se em seduzir essas vítimas que, chegando ao seu destino, são escravizadas – são obrigadas a trabalhar em troca de comida e alojamento e muitas vezes, a prostituir-se com o mesmo fim.
Enquanto que os defensores da regularização da prostituição argumentam ser muito mais interessante para essas mulheres receberem seus pagamentos em dólares, euros etc, deveriam estar empenhados em desenvolver projetos sociais que as tirassem “da vida” e encontrassem uma forma digna de um ser humano sobreviver.

Fonte: Blog Karina Merlo

Fontes auxiliares:

Um comentário:

Karina Merlo disse...

Olá Roberto,

Esse artigo demonstra a minha revolta quanto à péssima imagem que estamos consolidando no exterior.

Um país como o nosso, com tantas belezas e riquezas naturais deveria estar divulgando o turismo pelos atrativos regionais e não pelo sexo.

Não me oponho à prostituição, pois não me cabe julgar a conduta de quem se prostitui e nem os motivos que levam a vender o seu corpo. O CP não criminaliza essa conduta, mas sim, a quem favorece, promove, facilita ou intermedia. Daí ser um disparate aos costumes o que propõe o PL-98/2003. Os autores deveriam se enquadrar no art. 228 do Código Penal Brasileiro (talvez por isso tenham incluído a descriminalização desse artigo também).

Problema maior que vislumbro é que a prostituição nunca está sozinha: o tráfico de drogas e a prostituição infantil são suas fiéis companheiras. É algo que flui naturalmente: crianças crescem nesses ambientes achando essa prática normal. Traficantes sempre estão requisitando serviços de prostitutas em troca de drogas e elas acabam por se envolver no tráfico como mais uma fonte miserável de renda. É realmente um ciclo "vicioso".

Se o segmento de turismo no Brasil fosse levado a sério, e não como um "bacanal", o governo estaria mais empenhado em investimentos de infra-estrutura e segurança para os turistas. Leis que fomentem mais ainda a desestabilização social não contribuem para nada, pelo contrário.

Nossas paisagens naturais, cidades históricas ficam sob o completo abandono, sem fiscalização, sem verbas para recuperações, ou ainda, sem segurança para a violência que impera nos locais mais divulgados.

Em minhas viagens ao exterior pude ver que o turismo na América do Norte e na Europa proporcionam tudo isso. Fiquei surpresa ao visitar o Grand Canyon e ver que eles tinham estrutura para deficientes físicos. Por que é tão difícil implantar isso no Brasil? Na Chapada Diamantina, para uma pessoa em boas condições físicas descer uma gruta é o maior sufoco, praticamente um rapel.

Muita coisa no turismo deve ser repensada, entretanto usar as fragilidades humanas e fomentar mais misérias e crimes é um paliativo que combina com os programas paternalistas que já são uma tradição no governo brasileiro.

Abração,
Karina